A humanidade é Divina. Carrega em si mesma o germe da luz imperecível da primeira explosão que deu origem ao universo. Luz que traz consigo bilhões de anos de vida e experiências do Todo. É o muito no pouco. É o pequeno que traz em seu seio a grandeza da evolução, caminhos trilhados e um infinito ainda por trilhar. É o Eterno que se faz presente no brilho que pulsa no olhar de todos nós. O Eterno é Pleno. É repleto do tudo e do nada. É o silêncio que se faz no barulho, em meio a algazarra de crianças a brincar.
Por isso a criança é o símbolo da plenitude da vida. Ela é inteira. A sua alma vive em seu corpo, se compraz dele. Ser criança é ser vida em abundância. Ela se lambuza em Ser. Vive a eternidade do instante. A criança é. Isso mesmo, de forma intransitiva. Ela está pronta e acabada no infinito de possibilidades de seu Ser. No seu viver, a vida é encanto e crueza. É dor e alegria. Ela dança, canta, pula e grita com a mesma desenvoltura que se encolhe, recolhe, deita e dorme. Ela brinca sozinha, ela brinca com os outros. Ela quer tudo. E sabe, sem saber, que o mundo todo é dela, que todo universo é ela.
Observar uma criança enche nossos olhos de esperança, não no seu futuro, mas na nossa possibilidade de vir a sermos melhores. Em seu olhar verdadeiro nós nos reconhecemos. A criança acende dentro de nós a chama da vida. Vida que foi consumida em desvarios de ter o que não precisamos. De ser quem não somos. Observar uma criança brincar, calar, sonhar é reconhecer o divino que há em nós. É reaprender sobre nós mesmos. Redescobrir quem somos e onde nos perdemos.
Sob esse olhar, somos maduros quando recobramos a integridade da criança em nosso fazer de todos os dias. De forma a sacralizar, tornar sagrado, tudo o que fazemos. Para tanto não precisamos de reflexões rebuscadas e filosóficas. Basta vivermos no tempo sem tempo do brincar. Enchendo de eternidade tudo o que vivemos. Essa é a liberdade extrema. A liberdade de SER. Nela, o humano que há em nós não se restringe a crueza da vida, mas se abre para as luzes infinitas da imaginação. É um lugar-tempo onde a criatura se une ao criador e o sagrado se abre em flor. Plenificando a vida em luzes e cores. Nessa hora, somos todos irmãos em humanidade. É o mistério do universo se manifestando no mistério de nossa individualidade. E então, a vida será realmente uma Festa, uma celebração da vida em si mesma.